Na década de 1990, houve várias tentativas de adaptar videogames populares para o cinema, mas a maioria desses filmes foi mal recebida pela crítica e pelo público. Em geral, os primeiros filmes de videogames se tornaram um verdadeiro fiasco. Um dos principais problemas foi a falta de compreensão dos cineastas sobre o que fazia os jogos serem tão populares. Os jogos de videogame eram vistos como diversão interativa e imersiva, enquanto os filmes eram vistos como uma experiência mais passiva. Muitos cineastas tentaram adaptar jogos de videogame sem levar em consideração essas diferenças fundamentais. Os resultados foram filmes que não conseguiram capturar a essência dos jogos.
Outro problema foi a falta de orçamento e tecnologia necessários para produzir efeitos visuais realistas. Muitos dos primeiros jogos de videogame eram simples e gráficos em 2D, enquanto os filmes exigiam gráficos em 3D e efeitos especiais sofisticados. Deste modo, muitos desses filmes pareciam baratos e de baixa qualidade. Relembre, aqui no Vale do Pontar, os mais famosos.
Super Marios Bros. (1993)
O filme de 1993, “Super Mario Bros.“, foi baseado na popular franquia de videogames, o filme foi muito aguardado pelos fãs da série, mas não correspondeu às expectativas. O filme segue Mario e Luigi, dois encanadores do Brooklyn, transportados para um universo paralelo onde devem salvar a Princesa Peach das garras do malvado Rei Koopa. Ao longo do caminho, eles encontram uma série de personagens memoráveis dos videogames, incluindo Yoshi. O filme tinha tudo para dar certo. Menos fidelidade ao jogo de origem.
Por que deu errado?
Uma das principais razões para o fracasso do filme foi a falta de adaptação fiel ao material de origem. Os cineastas tomaram liberdades criativas com os personagens e a história, o que resultou em um filme muito diferente dos jogos. A produção transformou o vilão Bowser, originalmente uma espécie de híbrido entre dinossauro e tartaruga, em um presidente corrupto e inescrupuloso de Dinohattan. Isso afastou os fãs da série e não conseguiu atrair um novo público.
Muitos fãs do videogame ficaram desapontados com as mudanças feitas nos personagens e em suas personalidades. Os espectadores sentiram que faltava ao filme o charme e o humor que tornavam os jogos tão amados.
Além disso, o filme sofreu com dificuldades de produção, estouros de orçamento, conflitos entre os cineastas e o estúdio e uma data de lançamento apressada. Esses problemas contribuíram para a baixa qualidade geral do filme e a falta de apelo ao público.
O filme também foi criticado por seus efeitos especiais ruins, atuação sem inspiração e um enredo complicado e confuso. A despeito de seu elenco de estrelas, o filme recebeu críticas negativas e teve um desempenho inferior nas bilheterias.
Apesar de seu fracasso, Super Mario Bros. se tornou um clássico cult, lembrado por suas excentricidades e seu lugar na história das adaptações de videogame. Seu lançamento abriu portas para novas produções de filmes baseados em jogos de videogames. Entretanto, este não é um feito tão grande, visto que os filmes seguintes também foram, no mínimo, abaixo do esperado. Talvez o único mérito do filme seja seu pioneirismo.
Double Dragon (1994)
Apenas um ano depois do filme do Mario, foi a vez de outra franquia do mundo dos games ganhar sua versão para as telonas. “Double Dragon” é um filme de ação e ficção científica baseado em um jogo de mesmo nome lançado em 1987 para arcade e outras plataformas. James Yukich dirigiu o filme, estrelado por Mark Dacascos e Scott Wolf, sendo lançado em 1994.
Infelizmente, assim como Super Mario Bros., o filme foi um fracasso de crítica e aceitação do público. Ao final, o filme obteve um desempenho ruim nas bilheterias, uma vez que foi produzido com um orçamento de $7.8 milhões, mas arrecadou pouco mais de $2 milhões.
Por que deu errado?
Uma das principais razões pelas quais o filme falhou foi a falta de fidelidade ao jogo original. O jogo “Double Dragon” tinha uma história relativamente simples – dois irmãos lutavam através de níveis cheios de inimigos para resgatar a namorada de um deles. No entanto, o filme mudou significativamente a história, ambientando-a em um mundo pós-apocalíptico e adicionando elementos de magia e ciência.
Além disso, o filme teve um baixo orçamento e sofreu com efeitos especiais pouco convincentes. As lutas e cenas de ação também foram criticadas por serem mal coreografadas e pouco empolgantes. Outro problema foi o elenco. Mark Dacascos e Scott Wolf tiveram boas atuações, todavia, muitos dos outros atores do filme receberam críticas negativas. Alguns críticos também apontaram que o humor do filme não funcionou bem, parecendo forçado e sem graça.
Além dessas questões, o filme foi visto como uma tentativa mal executada de capitalizar a popularidade das artes marciais e dos videogames na década de 1990. As sequências de ação do filme eram inexpressivas e seus personagens mal desenvolvidos, o que contribuiu ainda mais para sua falta de apelo.
No geral, “Double Dragon” não conseguiu satisfazer tanto os fãs do jogo quanto o público geral. Embora a ideia de adaptar um jogo de videogame para o cinema possa ter parecido atraente na época, o filme demonstrou que apenas inserir personagens e elementos do jogo em uma história completamente diferente pode não ser suficiente para criar um filme bem sucedido.
Street Fighter – A Última Batalha (1994)
Aproveitando o embalo (controverso) de Super Mario Bros. e Double Dragon, lançou-se outro filme de videogame ainda em 1994. “Street Fighter” é um filme de ação e aventura baseado no jogo de videogame de mesmo nome lançado em 1987. O filme foi lançado em 1994, dirigido por Steven E. de Souza e estrelado por Jean-Claude Van Damme, Raul Julia e Kylie Minogue. Tendo no elenco um ator tão renomado como Van Damme – e que inclusive inspirou a criação da franquia Mortal Kombat – era de se esperar que o filme fosse um sucesso. Entretanto, não foi o que aconteceu.
Novamente, o filme inspirado em jogo foi um fracasso comercial e, adivinhem só, de crítica. Embora baseado na popular franquia de videogame de mesmo nome, o longa-metragem não conseguiu capturar a essência dos jogos e atrair fãs e não fãs da série.
Por que deu errado?
E mais uma vez uma das principais razões pelas quais o filme falhou foi a falta de fidelidade ao jogo original. O jogo “Street Fighter” tinha personagens icônicos, como Ryu, Ken e Chun-Li, que eram muito populares entre os fãs. No entanto, o filme mudou significativamente a história e a personalidade desses personagens, o que deixou muitos fãs descontentes.
Além do mais, o filme teve um baixo orçamento e sofreu com efeitos especiais pouco convincentes. As lutas e cenas de ação também foram criticadas por serem mal coreografadas e pouco empolgantes. O filme não conseguiu transmitir a energia e a emoção do jogo, o que desapontou muitos fãs.
Outro problema foi o elenco. Embora Jean-Claude Van Damme fosse um nome conhecido em filmes de ação, sua performance como o personagem principal, Guile, foi considerada fraca e sem emoção. O papel do vilão M. Bison foi interpretado por Raul Julia em sua última atuação antes de sua morte, mas o personagem foi retratado de forma caricata e pouco ameaçadora.
E como se não bastassem todos esses problemas, o diretor do filme alegou, anos atrás, que Van Damme estava “cheiradaço” durante as gravações. Se a declaração é verdadeira, não sabemos, porém, é certo que a produção do filme estava uma bagunça.
Mortal Kombat: A Aniquilação (1997)
O primeiro filme adaptar os jogos de Mortal Kombat foi lançado em 1995, tendo um sucesso moderado. Parecia que enfim os filmes de videogames estavam entrando no eixo. Contudo, a sequência de Mortal Kombat (1995) brindou a indústria cinematográfica com um funesto retrocesso.
Mortal Kombat: A Aniquilação foi dirigido por John R. Leonetti e apresentava um elenco de personagens da série de jogos de luta Mortal Kombat, incluindo Liu Kang, Raiden, Sub-Zero e Scorpion. O enredo do filme seguia os personagens enquanto eles lutavam para impedir o vilão Shao Kahn de conquistar a Terra.
Por que deu errado?
Primeiramente, o filme apresentou um elenco quase inteiramente renovado. Apenas dois membros do elenco original estiveram presentes no filme. Robin Shou, que interpretou Liu Kang, e Talisa Soto, que interpretou Kitana, foram os únicos que decidiram voltar para reprisar seus papéis. A maioria atores optou por não participar da sequência após ter acesso ao roteiro, sendo este um prenúncio de que algo não estava bom.
O filme significativamente alterou ou omitiu totalmente vários personagens populares dos jogos, como Johnny Cage e Kitana. Alguns dos personagens tiveram suas personalidades significativamente alteradas no filme, em relação aos jogos, o que decepcionou os fãs mais dedicados da franquia. Aliás, o filme introduziu personagens como Rain e Ermac, mas lhes deu papéis menores em comparação aos jogos.
O enredo do filme não seguia fielmente a história dos jogos. Em vez disso, apresentava uma trama simplificada e bastante diferente, com elementos que não estavam presentes nos jogos, como o personagem de Shinnok. E também, os roteiristas tiveram a ideia “genial” de transformar Shao Kahn no irmão de Raiden.
Por fim, o filme simplificou as lutas em comparação aos jogos, com menos movimentos especiais e coreografia menos elaborada. Muitos críticos consideraram que os efeitos especiais utilizados no filme eram de qualidade inferior em comparação aos jogos, o que resultou em algumas cenas menos imersivas e menos impressionantes.
Os tempos mudaram?
Não é possível afirmar que os filmes foram, no geral, melhores durante as décadas seguintes. Ao contrário, com as primeiras adaptações na década de 1990, pode-se dizer que nos anos 2000 filmes de videogames eram a receita do fracasso. Por exemplo, a crítica não recebeu bem o filme Lara Croft: Tomb Raider (2001). Segundo avaliações do Rotten Tomatoes, Angelina Jolie é o único ponto alto do filme, mas nem ela conseguiu salvar a produção.
No entanto, com o avanço da tecnologia e a compreensão cada vez maior dos cineastas sobre os videogames, os filmes baseados em jogos de videogame melhoraram significativamente nas últimas décadas. Pelo menos em questão de produção. Os efeitos especiais geralmente não são mais um problema, visto que jogos de sucesso tendem a receber adaptações de grandes estúdios, com orçamentos nada modestos.
Velhos problemas ainda persistem
Hoje, o grande problema das adaptações de jogos é o mesmo que um dos muitos existentes nos anos 90: falta de fidelidade ao material original. O que mais se pode observar atualmente são produções de filmes e séries com orçamentos elevados e boa qualidade audiovisual, mas que modificam bastante a história dos jogos que adaptam.
Um dos exemplos mais proeminentes é The Witcher, série de fantasia da Netflix. De tanto se desviar dos jogos e dos livros, a série afastou sua estrela principal, Henry Cavill, que se demitiu após a terceira temporada. A razão foi justamente o rumo que a série estava tomando, divergindo cada vez mais da história original. Por outro lado, The Last of Us da HBO está reforçando, de outra forma, que modificar demais uma história adaptada é um grande problema. Neste caso, a série prova isso ao se manter fiel ao jogo e, desse modo, obter avaliações favoráveis da crítica e do público.
Em suma, não basta ter um bom orçamento e entregar uma boa edição. Produções que adaptam jogos, sejam filmes ou séries, precisam lembrar do que estão adaptando e se manter o mais fiel possível ao conteúdo original. Afinal, ao assistirem seus jogos preferidos adaptados, os jogadores esperam ver na tela aquilo que encontram nos videogames.
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AUTOR DA MATÉRIA: Allan F. F. Gouvea
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