Em outubro de 2001, o mundo dos games virou uma esquina sem olhar pra trás.
Nascia Grand Theft Auto III, um jogo que transformaria o gênero de ação, a narrativa interativa e, de certa forma, a própria maneira como enxergamos o videogame.
Hoje, 24 anos depois, ele continua ecoando nas ruas digitais de cada sandbox moderno.
Mas para entender o tamanho desse impacto, é preciso voltar no tempo — para um momento em que o mundo estava mudando, e os games começavam a amadurecer junto.

2001: o caos e o realismo batendo à porta
O começo dos anos 2000 era turbulento.
O mundo ainda digeria os eventos de 11 de setembro, e a cultura urbana respirava rebeldia — nos filmes, na música, nas ruas e, claro, nos videogames.
A indústria dos games vivia um ponto de virada:
o PlayStation 2 já havia se consolidado, o Dreamcast agonizava, e o Xbox estava prestes a nascer.
A transição para o 3D estava completa, mas faltava algo — faltava liberdade.
Até então, a maioria dos jogos seguia regras rígidas: missões lineares, câmeras fixas, enredos previsíveis.
Foi aí que GTA III, da Rockstar Games, entrou como um verdadeiro atentado criativo contra o status quo.
Liberdade, crime e o nascimento do sandbox moderno
GTA III apresentou algo inédito: uma cidade viva, que pulsava com trânsito, pedestres, rádios, clima dinâmico e infinitas possibilidades.
Pela primeira vez, o jogador não era um herói — era apenas alguém tentando sobreviver em Liberty City, uma metrópole inspirada em Nova York, cheia de corrupção, ambição e ironia.
Você podia seguir a história… ou simplesmente não seguir.
Roubar um carro, ouvir música, fugir da polícia e, sem perceber, criar uma narrativa própria.
Essa ideia — dar poder ao jogador — se tornaria o alicerce de uma nova geração de jogos.
De Saints Row a Sleeping Dogs, de Watch Dogs a Cyberpunk 2077, todos herdaram o DNA de GTA III em algum aspecto.
Um retrato da sociedade e de suas contradições
GTA III não apenas refletiu seu tempo — ele zoou o seu tempo.
Era um espelho cínico da América pós-anos 90: consumista, violenta, obcecada por fama e poder.
Os diálogos no rádio, os anúncios falsos, as gangues e até as roupas dos NPCs eram comentários disfarçados sobre aquele mundo.
O game falava de corrupção, desigualdade e alienação com um sarcasmo tão afiado que muita gente nem percebeu.
E é por isso que ele envelheceu tão bem: porque sua crítica ainda ressoa em cada metrópole moderna, digital ou real.
A ousadia da Rockstar
Lançar GTA III em 2001 foi um ato de coragem.
A mídia americana atacava os videogames por sua violência e “influência moral”, mas a Rockstar não recuou.
Pelo contrário — ela dobrou a aposta, criando um jogo adulto, provocativo e artisticamente ambicioso.
O resultado?
Mais de 14 milhões de cópias vendidas e uma revolução cultural.
Os videogames deixaram de ser “coisa de criança” e passaram a ser espelho da sociedade — com tudo o que isso implica.
O legado 24 anos depois
Hoje, GTA III pode parecer simples aos olhos modernos, mas sua essência continua imbatível.
Ele nos ensinou que o mundo aberto é uma metáfora da vida: caótico, cheio de escolhas e consequências.
E que às vezes, dirigir sem destino pode ser tão importante quanto chegar lá.
A Rockstar nunca mais foi a mesma — e nós, jogadores, também não.