A franquia de Power Rangers é uma das mais famosas do mundo, conquistado o apreço do público ao longo de três décadas. Recentemente tivemos um especial de 30 anos lançado pela Netflix que emocionou principalmente os fãs da primeira geração. No entanto, de acordo com as críticas e resenhas, é inegável que o especial se sustentou apenas com o apelo à nostalgia. Ver os personagens que marcaram a infância dos anos 90 e 2000 de volta a ação bastou para sentimentos saudosos aflorassem e garantissem a audiência. Do contrário, o especial seria somente uma produção precária e sem criatividade nenhuma, que não encantaria nem mesmo crianças de cinco anos.
O fato é que, quando Power Rangers surgiu, seu formato era a fórmula certa para um seriado infantil de baixo orçamento ser reconhecido. Hoje, porém, esta premissa não funciona mais. Apenas apresentar heróis coloridos que enfrentam monstros de borrachas com péssimas coreografias não é o suficiente. Além disso, vilões que são maus simplesmente porque são, não convence mais o público alvo.
Talvez tudo isso não fosse relevante, afinal, estamos falando de uma franquia que acabou de completar 30 anos e consegue surfar na glória do passado. Entretanto há um detalhe importante a ser posto na equação: Power Rangers pode ser reinicializado. Desde 2019 há rumores de um novo reboot após o fracasso comercial do filme de 2017. Agora, com o especial de 30 anos, é muito possível que isso aconteça. Talvez a própria Netflix decida aproveitar o embale e repaginar a saga dos poderosos patrulheiros. Mas, se quiser obter um retorno positivo do público, terá que reinventá-los.
Franquia de Power Rangers precisa se adaptar
A franquia Power Rangers tem sido um sucesso na cultura pop desde a sua criação na década de 1990. No entanto, para manter a relevância e conquistar novos públicos, é fundamental que a franquia se adapte aos dias atuais. A adaptação é importante porque a cultura e as tendências mudam com o tempo. As produtoras precisam acompanhar essas mudanças para manterem-se relevantes e atraentes para o público. Além disso, a adaptação permite à franquia explorar novas ideias, personagens e conceitos que podem atrair novos fãs e revitalizar o interesse dos fãs antigos.
No caso dos Power Rangers, a franquia já passou por diversas adaptações ao longo dos anos para refletir as mudanças culturais e tecnológicas da época. Por exemplo, a série Power Rangers: Morfagem Feroz, lançada em 2019, apresenta personagens que usam tecnologia de ponta e que enfrentam problemas ambientais. O grande problema é justamente manter elementos que faziam sentido há três décadas, mas que hoje estão defasados. Mesmo se tratando de um produto infantil, a falta de profundida na trama das séries de Power Rangers pode ser uma barreira ao êxito. Não podemos pressupor que, apenas pelos espectadores serem crianças, a obra apresentada não possa conter temas profundos e relevantes. A prova disso é o anime/cartoon Avatar: A Lenda de Aang, destino primordialmente ao público infantil, mas que aborda temáticas como guerra e genocídio. Tudo é claro, sem exageros gráficos e dentro do limite da compreensão dos pequenos espectadores.
Se tratando de Power Rangers, como é possível pegar uma franquia que é infantilizada por natureza e reformulá-la para ser relevante? De fato, esta não é uma tarefa fácil, mas há alguns caminhos possíveis. Abordaremos alguns deles nos tópicos seguintes.
Investir em roteiros mais complexos e abordar temas relevantes
A franquia Power Rangers é conhecida por sua fórmula de ação e aventura com um toque de fantasia, que conquistou uma legião de fãs ao longo dos anos. No entanto, com o passar do tempo, muitos fãs começaram a pedir uma evolução na história da série, com roteiros mais complexos e temas mais relevantes.
Investir em roteiros mais complexos e abordar temas relevantes pode ser uma maneira eficaz de manter a franquia Power Rangers atualizada e atraente para novas gerações de fãs. Ao abordar questões que são importantes para a sociedade atual, a série pode ganhar um novo público e também trazer uma mensagem positiva.
Um exemplo de como a série poderia abordar temas relevantes é através da inclusão de personagens com diferentes origens e culturas, que possam compartilhar suas histórias e experiências. Ao abordar temas como racismo, preconceito e intolerância, a série pode ajudar a educar as crianças sobre a importância da diversidade e da inclusão.
Outro tema importante que a franquia poderia abordar é a conservação do meio ambiente. A série poderia incluir personagens que sejam ativistas ambientais, ou que enfrentem desafios relacionados à preservação da natureza. Dessa forma, a série poderia ajudar a conscientizar as crianças sobre a importância de cuidar do meio ambiente e como pequenas ações podem fazer a diferença.
Além disso, a franquia poderia abordar questões políticas e sociais, como as diferenças de classes e a desigualdade social. A série poderia mostrar como os personagens enfrentam esses problemas e como trabalham juntos para superá-los, incentivando as crianças a serem cidadãos conscientes e engajados.
Investir em roteiros mais complexos e abordar temas relevantes pode ser uma maneira eficaz de manter a franquia Power Rangers atualizada e atraente para novas gerações de fãs, enquanto ainda mantém sua essência de ação e aventura.
Desenvolver tramas que fogem do padrão “vilão da semana” e trabalhem o arco narrativo a longo prazo
Uma das críticas mais comuns à franquia Power Rangers é a fórmula padrão de “vilão da semana”, onde os heróis enfrentam um novo vilão a cada episódio e resolvem o problema em um único episódio. Essa fórmula é compreensível dentro do contexto da série de origem, que tinha como público-alvo principalmente as crianças. No entanto, hoje em dia, o público espera tramas mais elaboradas e que se desenvolvam ao longo de uma temporada ou arco narrativo.
Desenvolver tramas que fujam do padrão “vilão da semana” e trabalhem o arco narrativo em longo prazo pode ser uma maneira eficaz de trazer uma nova vida à franquia Power Rangers. Isso permitiria aos roteiristas explorar as motivações dos vilões e aprofundar os personagens principais, além de dar espaço para momentos emocionais e desenvolvimento de relacionamentos.
Ao criar um arco narrativo em longo prazo, a franquia Power Rangers poderia contar histórias mais complexas e envolventes, que poderiam atrair um público mais velho e também manter o interesse dos fãs mais jovens. Isso poderia ser feito através de uma história de fundo que se desenvolve ao longo de uma temporada, com um vilão principal que tem uma motivação mais profunda e que vai sendo revelada aos poucos.
Além disso, desenvolver tramas que fogem do padrão “vilão da semana” também permitiria que a série tivesse mais espaço para explorar temas mais sérios, como a morte, o luto, a superação e a redenção. Esses temas poderiam ser abordados de maneira mais sensível e profunda em uma trama mais longa, permitindo que os personagens tenham tempo para refletir sobre suas ações e desenvolver suas personalidades.
Trazer novos vilões que possam ser desafiadores e interessantes, com motivações e personalidades mais complexas
Um dos pontos fracos da fórmula “vilão da semana” é a falta de desenvolvimento dos vilões. Eles geralmente são personagens unidimensionais, com motivações superficiais e personalidades estereotipadas. Para manter o interesse dos fãs e trazer uma nova vida à franquia Power Rangers, é importante que novos vilões sejam apresentados com motivações e personalidades mais complexas.
Trazer novos vilões desafiadores e interessantes pode ser uma maneira eficaz de manter a série atualizada e atraente para o público. Esses vilões poderiam ter motivações mais profundas, que poderiam ser exploradas ao longo de uma temporada ou arco narrativo. Por exemplo, um vilão poderia ter uma motivação pessoal que o leva a buscar o poder para proteger alguém que ele ama, ou ele poderia ter sido traumatizado por um evento traumático que o levou a buscar a vingança.
Além disso, novos vilões também poderiam ter personalidades mais complexas e multidimensionais. Em vez de serem simplesmente “maus”, eles poderiam ter fraquezas e vulnerabilidades que os tornam mais humanos e, por sua vez, mais interessantes para o público. Isso permitiria que os roteiristas explorassem o lado humano dos vilões, além de aprofundar o conflito entre eles e os heróis.
Outra opção seria trazer vilões de outras culturas ou mitologias para a franquia Power Rangers. Isso permitiria que a série explorasse novas culturas e mitos, além de apresentar novos desafios para os heróis. Por exemplo, um vilão baseado na mitologia japonesa poderia ser apresentado como um desafio para a equipe de Power Rangers e permitir que a série explore novos elementos culturais.
Permitir que os personagens tenham desenvolvimento e amadurecimento ao longo da série, evitando a estagnação e repetição de arcos narrativos
Uma das principais reclamações dos fãs de Power Rangers é a falta de desenvolvimento dos personagens ao longo da série. Muitas vezes, os personagens começam como arquétipos estereotipados e permanecem assim durante toda a temporada, sem mudança ou amadurecimento significativo. Para evitar a estagnação e repetição de arcos narrativos, é importante que a franquia permita que os personagens tenham desenvolvimento e amadurecimento ao longo da série.
A produção pode fazer isso de várias maneiras. Por exemplo, os personagens poderiam enfrentar desafios pessoais que os forçam a mudar e crescer. Eles poderiam aprender lições importantes sobre si mesmos e sobre o mundo ao seu redor, e isso poderia ser refletido em suas ações e comportamentos ao longo da série. Além disso, os personagens poderiam ter relacionamentos mais complexos uns com os outros, o que permitiria que eles se desenvolvessem e mudassem em resposta aos outros personagens.
Outra maneira de permitir o desenvolvimento dos personagens é apresentar arcos narrativos mais longos e complexos. Em vez de se concentrar em uma história autocontida em cada episódio, a série poderia apresentar uma narrativa mais contínua, com histórias que se estendem por vários episódios ou mesmo por toda a temporada. Isso permitiria que os personagens enfrentassem desafios mais significativos e tivessem mudanças mais profundas ao longo do tempo.
Em resumo, permitir que os personagens tenham desenvolvimento e amadurecimento ao longo da série é fundamental para manter a franquia Power Rangers relevante e interessante para os fãs. Isso pode ser feito por meio de desafios pessoais, relacionamentos mais complexos, arcos narrativos mais longos e uma abordagem mais serializada. Com essas mudanças, a franquia pode evoluir e se adaptar aos dias atuais, atraindo novos fãs e mantendo os antigos engajados.
Incluir mais humor e comédia, mas sem cair no exagero e no infantilismo
Embora a franquia Power Rangers tenha sempre contado com um toque de humor, muitas vezes essa abordagem pode ser considerada infantil e exagerada. Isso podia funcionar nos anos 90, mas hoje os espectadores mudaram. Mesmo para as crianças de hoje, talvez não seja mais tão engraçado ver um Alpha atrapalhada esbarrando nos rangers invisíveis. Para se adaptar aos dias atuais e conquistar um público mais exigente, é importante incluir mais humor e comédia, mas sem cair no exagero e no infantilismo.
Uma maneira de fazer isso é por meio de uma abordagem mais sofisticada e sutil do humor. Em vez de recorrer a piadas forçadas e situações absurdas, a série pode investir em um humor mais inteligente e irônico. Esse tipo de humor não subestima a inteligência do público e pode ser apreciado tanto por crianças quanto por adultos.
Além disso, a franquia Power Rangers pode incluir personagens que sejam naturalmente engraçados, sem exagerar na caricatura ou na infantilização. Esses personagens podem ser um alívio cômico para situações tensas e dramáticas, trazendo um equilíbrio na narrativa, permitindo que o público relaxe e se divirta. Entretanto, estes personagens não podem mais se comportar como dois valentões desastrados que fazem piadas ruins. Muito menos que tentem pular de um avião sem paraquedas, como se essa fosse uma das cenas mais engraçadas do universo.
Finalmente, é importante lembrar que o humor e a comédia devem ser um complemento à narrativa principal e não o foco principal da série. Os personagens devem ser levados a sério e as situações dramáticas e de ação devem ser apresentadas com a devida importância. O público se manterá engajado se houver equilíbrio entre humor e seriedade.
Para concluir
A reinicialização da franquia de Power Rangers após 30 anos deve incluir uma adaptação à atualidade pelo simples fato de sua fórmula já estar batida. Essa reinicialização pode e deve incluir mudanças significativas, como a inclusão de personagens mais diversos. Além disso, a exploração de temas atuais e relevantes também se faz necessária.
Em resumo, a adaptação é fundamental para a franquia Power Rangers e qualquer outra franquia que pretenda continuar relevante e conquistar novos públicos. Ao se manter atualizada e em sintonia com as mudanças culturais a franquia pode continuar atraindo fãs e manter o seu lugar na cultura pop.
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AUTOR DA MATÉRIA: Allan F. F. Gouvea
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