A 1° temporada da série Love, Death & Robots | Crítica & Guia de Episódios

A Netflix vem fazendo cada vez mais produções próprias de séries, animes e filmes e nesse caminho temos algumas produções questionáveis porém outras excelentes, como esta cuja Crítica/Guia de episódios se trata.

Love, Death & Robots (Amor, Morte & Robôs) é dividida em 18 episódios, cada um de forma independente e com histórias e design totalmente diferente do outro (lembrando nesse quesito Black Mirror da própria Netflix). A animação (ou as diversas animações) se enquadra no hall das séries da Netflix de excelência, não só pela acertada aposta de ser composta, como o próprio nome sugere, de muito amor, robôs/tecnologia e violência/morte, mas pela execução desses temas de uma forma muito coesa. Geralmente os mundos apresentados são Cyberpunk.

Cyberpunk em que sentido? Estética? Conceito? Alguns episódios mais, outros menos, porém todos trazem de alguma forma estes elementos conceituais de violência, sexualização, desigualdades sociais, recheados da estática cheia de neon, tecnologia, elementos literalmente orgânicos, sujeira, com excelentes doses de ação e plot twists surpreendentes de uma forma deliciosa que agrada quem assiste de uma forma geral.

Se quer conhecer mais sobre a série e/ou não liga pra SPOILERS, vá em frente! Caso não entendeu alguns desses episódios, volte aqui depois de ter assistido e descubra!  Nem tudo é o que parece e às vezes alguns detalhes passam despercebidos mesmo e existem possibilidades para diversas interpretações em diversos casos.  A série é imprescindível não só para quem é fã do gênero Cyberpunk mas para quem gosta de boas histórias rápidas e curte animações de uma forma geral. Vale ressaltar que a série não é para menores de idade.

Três robôs é um episódio bem leve e divertido, e como o nome sugere, conta a história de três robôs que passam a vida viajando para cidades humanas devastadas por algum tipo de apocalipse.

Temos um robô laranja e pequeno, o mais falante, o robô branco e o cinza que parece uma pirâmide ambulante e tira foto de tudo que julga interessante, e seu interesse é a devastação da sociedade. Estes ficam surpresos ao encontrar um gato, julgando-o perigoso. Ao final do episódio, o gato se revela inteligente e não só isso, centenas de gatos aparecem, indicando que estes que acabaram com a humanidade.

Para Além da Fenda de Áquila  possui um visual incrível em CGI e conta a história de um capitão e sua parceira que embarcam em uma viagem espacial. Porém algo de errado acontece e ele vai parar em uma galáxia diferente da planejada. Nessa galáxia, ele encontra Greta, uma paixão do passado.

O capitão, mesmo furioso, reata a relação com Greta. Depois de sua amiga gritar com Greta dizendo que ela não é quem diz que é, a ferir, e rapidamente Greta curar seu ferimento, o capitão exige saber  a verdade e descobre que Greta na realidade é um alienígena que prendeu o capitão em uma memória, afinal seu verdadeiro corpo estava definhando em um lugar perdido e devastado da galáxia.

Em Era do Gelo temos um (e único) episódio em live-action com alguns elementos em CGI, vemos um casal que recém se mudou para um novo apartamento e o antigo proprietário deixou uma geladeira antiga no local.

O freezer estava congelado e o casal pega cubos de gelo pra tomar vinho e notam algo diferente em um cubo de gelo: Um mini mamute. Eles então percebem que existe uma civilização dentro de seu freezer e que a cada minuto eles avançam séculos. A civilização se autodestrói quando estão ultra futuristas em uma guerra nuclear à noite, e se reerguem no dia seguinte, apresentando dinossauros e macacos. A trilha sonora aqui é bem pontual e sabe levar emoção nas horas de inflexão da mini civilização.

Este é um episódio simples mas muito curioso, levando a pensar que tanto poder e recursos às vezes pode ser prejudicial.

A Vantagem de Sonnie é o primeiro episódio que potencializa e mostra o que a série veio: Em meio a uma animação de 17 minutos, somos apresentados a uma protagonista forte e destemida, porém com um passado conturbado e que de certa forma a atormenta até hoje. Só que Sonnie usa isso a seu favor. Sonnie participa de lutas guiadas por avatares em formas de monstros, que tem suas mentes conectadas aos humanos/ciborgues que os controlam.

Sonnie tem seu corpo destruído por um magnata alegando que a protagonista é um problema para ele, entretanto a revelação é que mesmo com seu corpo destruído, sua consciência sobrevive na criatura que Sonnie tinha controlado na arena de batalha, assim matando o magnata.

Nesse episódio o combate é incrível, a apresentação da personagem é breve e sucinta, trazendo momentos de amor e também violência de uma forma brutalmente e organicamente explorada, se consolidando como um dos melhores episódios da série.

Quando o Iogurte Assumiu o Controle é dos episódios mais bizarros, senão o mais bizarro que você verá nesta série. Os cientistas criam uma forma de vida superior na forma de iogurte, que por se provar muito sábio e perigoso, acaba assumindo não só o controle dos Estados Unidos mas do mundo.

Depois de acabar com todos os problemas da humanidade, o iogurte abandona os humanos e parte para outro planeta. POIS É.

A Guerra Secreta apresenta uma linda animação que conta a história de um pelotão russo, que deve lidar com criaturas que foram invocadas por antigos soldados e estas fugiram do controle, matando tudo que viam pela frente. Os antigos soldados gostariam que as criaturas o ajudassem na guerra porém o tiro saiu pela culatra. O esquadrão russo se sacrifica para derrotar as criaturas e apenas uma pessoa sobrevive. É um episódio bem simplório porém apresentando uma qualidade gráfica excepcional. Nem tudo sai como planejado.

Em Sugador de Almas, vemos uma animação em 2D clássica porém muito bem feita. Um arqueólogo e um soldado fogem de uma ameaça até então desconhecida. Quando entraram em uma câmara para investigar a origem dessa criatura, o jovem pesquisador que estava com ele se depara com um homem nú todo deformado. Este homem sobe em cima do rapaz e começa a devorá-lo. Conforme vai jorrando sangue, o monstro vai se deformando mais ainda e fica maior. O arqueólogo e o soldado correm até uma câmara onde estão seus outros amigos e no meio do trajeto descobrem algo: O mostro teme gatos. Isso mesmo, por mais “DO DEMONHO” que este seja, o arqueólogo explica que esta raça teme felinos.

A criatura, que chamam de “Empalador”, é chamada do próprio vampiro Conde Drácula. Após o monstro romper a porta da câmara, este se depara com um explosivo deixado pela garota Gary, que explode e desintegra o monstro. Todava, na fuga da equipe, estes descobrem que aquele monstro não era o único que habitava aquelas profundezas, diversos monstros daquela espécie também vivem lá.

O episódio é excelente e além de ser muito gore, tem um linguajar obsceno e diversas insinuações sexuais. Apesar de não ter estética cyberpunk, isso é cyberpunk em seu conceito e em sua essência.

A Testemunha possui uma das direções mais agitadas, senão a mais, de toda a série. Com um visual de tirar o queixo e com uma das estéticas mais cyberpunk dessa primeira temporada, a história mostra a fuga de uma dançarina de um suposto cara ao qual a protagonista viu-o cometendo um assassinato. O cara simplesmente tinha matado uma mulher idêntica à protagonista.

Quando o cara finalmente fica a sós com a mulher e tenta explicar pra ela qual era seu objetivo, na discussão a protagonista acaba matando o cara e olha pela janela do apartamento que se encontrava. Surpreendentemente a mulher vê o cara que ela tinha acabado de matar porém no apartamento do outro lado da rua, exatamente como ela tinha sido vista por esse cara que ela tinha acabado de matar… Sim, o episódio é bem agitado, lascivo e seu final é chocante. Às vezes explicar pra quê, né? Às vezes chocar basta e o ponto de interrogação deixado aqui é a prova disso.

O episódio Proteção Contra Alienígenas é muito interessante pela sua estrutura de construção de personagens: este mostra a vida aparentemente pacata de um casal de fazendeiros que tem como função proteger seu território de uns grandes insetos alienígenas que saem de um portal que surgem no meio do nada. Para isso o fazendeiro se equipa com um grande robô que é uma clara referência à Matrix Revolution. Porém nem tudo é tão simples como parece, como aprendemos com Love, Death & Robots até aqui. 

Enquanto outros fazendeiros se juntam ao casal principal para conter uma grande fenda e consequentemente uma grande quantidade dos insetos gigantes, é necessário o sacrifício do amigo do protagonista para conterem a invasão. O episódio faz você se importar com os personagens e o carinho que eles tem um pelo outro é bem mostrado aqui, te fazendo torcer pelo sucesso da contenção dos alienígena. Eis que fica a dúvida: No final do episódio é mostrado o planeta em que habitam e vemos diversas colônias de seres humanos espalhados pelo mundo. Será  aquelas colônias humanas eram as últimas que restaram do planeta ou os alienígenas estavam apenas tentando recuperar o planeta que pertenciam a eles?

Boa Caçada tem um lindo visual 2D e é como se fosse uma mistura dos clássicos da Disney com Avatar: a lenda de Aang: Uma bela iluminação, animação e designs incríveis, tanto dos personagens quanto dos cenários. A história mostra o pai do protagonista caçando uma criatura chamada hulijing, que pode adquirir a forma humana. Depois do pai do protagonista matar a criatura que aparentemente seduzia os homens para matá-los, Liang, o protagonita, poupa a filha Yan, dessa criatura que é uma raposa de diversas caldas. Yan explica que não era sua mãe que seduzia os homens e sim os homens que entregava seus corações aos hulijings e então as criaturas precisavam visitar os homens para acalmá-los à noite.

Em um cenário steampunk, a história mostra como a tecnologia modificou a vida dos habitantes de sua região natal. Liang vai para a cidade junto com Yan, que está com muitas dificuldades em assumir sua forma original. Liang se especializa em construir máquinas em forma de animais.

Yan é capturada e tem seu corpo todo removido, a não ser cabeça, e seu corpo é substituído por uma máquina. Após Liang fazer uns ajustes em Yan, esta consegue assumir sua forma de raposa e ataca os homens que saem por aí na noite para abusar de mulheres. Este é sem dúvida um dos melhores episódios, com personagens bem trabalhados em uma boa trama, com um incrível visual.

O Lixão tem um visual 3D bem interessante e conta a história de um velho que por anos mora no lixão, até que um fiscal chega lá e pede para ele se retirar do local. Este conta a história de que ele e seu amigo estavam conversando um dia até que uma criatura gigante, feita de lixo e misteriosa engole seu amigo.

O velho então caça essa criatura e descobre que a criatura na verdade é uma espécie de cachorro que se junta ao lixo e integra em sua “forma lixo” aquilo que consome.

O inspetor acha engraçada a história, debochando do velho, e então a criatura aparece e come o inspetor, ficando claro que a criatura se tornou um “animal de estimação do velho”, o famigerado “melhor amigo do homem” só que de uma forma bem bizarra .

Tendo um dos visuais 3d mais realistas da temporada, Metamorfos mostra dois soldados em uma região em constante conflito, o Afeganistão, porém estes são diferentes… Possuem força, resistência, velocidade e sentidos sobre-humanos. Estes na verdade são lobisomens e quando o amigo do protagonista é morto, este sabe que apenas gente de sua espécie é capaz de ter feito aquilo com seu amigo.

O protagonista então sai para a caçada e descobre que na verdade são 2 lobisomens que emboscaram seu amigo. Depois de ficar gravemente ferido, este dá conta dos 2 lobisomens e volta no acampamento para pegar o corpo de seu amigo para ir embora. Este julga que sua liberdade perante os militares é mais importante, afinal cansou de ser vulgado apenas como uma fera de guerra.

Noite de Pescaria apresenta aquele visual em 2D só que em 3 dimensões, lindíssimo, pra variar.

A história aqui é bem simples: Pai e filho viajam no deserto e o carro destes dá defeito, obrigando-os a passar uma noite ilhados no deserto. O pai conta que no passado aquele deserto era litoral e que espíritos antigos ali o habitavam.

Na noite enquanto pai e filho dormiam, de repente espíritos em forma de animais marinhos apareceram na região como se tivesse nadando. O filho, vislumbrado com aquilo, resolve “nadar” junto, se transformando um espírito também e passando a tocar nos demais espíritos. Avisado pelo pai, o filho não escuta e uma gigante criatura predadora mata o rapaz, que tinha ficado tão fascinado por aquilo e deixou tudo pra trás, inclusive sua vida. Às vezes ficar muito vislumbrado com as coisas pode ser prejudicial, como o pai tentou avisar o garoto.

Ajudinha lembra bastante o filme Gravidade, onde uma astronauta está no meio do espaço sozinha e operando sua nave. Quando esta vai para fora da nave arrumar algo, um prego vem com tudo e acerta ela, jogando-a pelo espaço. Sozinha no espaço, esta arranca parte da manga de seu traje para criar um impulso na zona de gravidade zero mas não consegue voltar para sua nave.

A última esperança é arrancar o próprio braço que estava já sem circulação sanguínea por causa da manga retirada e criar outro impulso, já que seu oxigênio tinha se esgotado. Sem o braço, a astronauta consegue retornar à sua nave e pelo comunicador seu amigo pergunta à ela: “Precisa de uma mão?” Sem saber que literalmente ela precisava de uma mãozinha. A estória é bem simples e sim, o visual realista é de cair o queixo.

Histórias Alternativas, depois do Pudim talvez seja o episódio mais diferente, porém não menos interessante. Aqui somos apresentados a um sistema operacional que tem a capacidade de simular a história caso alterássemos algum elemento desta, como matar Adolf Hitler de formas bem peculiares.

São mostradas diversas linhas temporais mostrando situações deveras inusitadas. O episódio é muito divertido em com uma animação em 2d estilizada dando mais o ar da graça.

13, Número da Sorte conta a história de uma comandante muito habilidosa e sua Nave 13. Essa nave era considerada azarada por várias tripulações morrerem nela. Depois de explicada a história que as naves não eram apenas máquinas e “tinham sentimentos”, nossa protagonista passa a lidar muito bem em todos os combates.

Até que chega um momento em que a nave é abatida e para salvar a tribulação, inclusive a protagonista, a nave acaba se explodindo. O episódio é um dos mais simplórios da série porém apresenta cenas de combate de naves interessantes e mostrando que a relação humano/máquina pode realmente existir, “dando vida” à metáfora.

Ponto Cego é uma simples história de 4 robôs motorizados que perseguem uma espécie de “Caminhão Tritrem”, em um cenário futurista naquele estilo heist (praticamente um velozes e furiosos da temporada).

Seu visual cartoonesco é interessante mas nada demais comparado ao que vimos até aqui. Depois de 3 dos 4 robôs (na verdade androides) se sacrificarem para destruir o “processador” do “Caminhão Tritrem cyberpunk”, o robô jovem sobrevivente se alegra pelo fato de não saber que seus amigos mortos na verdade estão vivos porque foi feito o backup do cérebro deles antes da missão.

Zima Blue fecha com chave de ouro a temporada. Um episódio em 2D lindo, com uma iluminação, textura, movimentação e incrível enredo. Somos apresentados à uma incrível dublagem (voz em inglês no caso) onde com certeza ajuda para a imersão do episódio.

A história fala de um artista misterioso que é um dos maiores influenciadores desta sociedade: Zima. Então em suas obras começa a aparecer um quadrado azul ciano pequeno e cada vez mais nas obras aparece alguns objetos da mesma cor.

Zima se isola e uma mulher é convidada por ele em sua ilha de refúgio para escrever a história desse artista misterioso. É chocante quando se descobre que Zima na verdade era uma máquina que limpava azulejo de piscina, azulejo que apresentava a mesma cor que aquelas formas em azul nas suas obras. Antes sua única função era limpar piscinas e sua dona que o criou morreu e esse nunca deixou de evoluir até adquirir consciência própria.

Agora sua obra final era remontar a piscina ao qual foi criado e se desmantelar até assumir sua foram original de máquina limpadora de piscina, deixando a seguinte mensagem:” …Para extrair o simples prazer de realizar uma tarefa bem feita. Minha Busca pela verdade acabou”.

Fica o questionamento: Até que ponto é necessário buscar a verdade e não aproveitar os prazeres das atividades simples? A mensagem abre margem para diversas interpretações, deixando uma interessante reflexão e concluindo de forma magistral a temporada.

A primeira temporada de Love, Death & Robots de uma forma geral é excelente. São poucos os episódios que não surpreendem ou no enredo ou no visual.

É Chocante e também bonita, pesadas mas também trata de temas polêmicos de uma forma sutil. A Netflix acertou em cheio nessa temporada de abertura e uma segunda temporada já foi confirmada. Será que na segunda temporada veremos algumas continuações de episódios que terminaram com incógnitas ou serão histórias totalmente novas?

Ah e lembrem-se de algo em comum em vários episódios aqui: Cuidado com os gatos. rs

Sua experiência e interpretações dos episódios foi diferente da nossa? Conta pra gente nos comentários! A série não se restringe apenas à uma “Black Mirror” de animação, seu design variado traz uma identidade imponente à Love, Death & Robots e que venha a segunda temporada, tão boa quanto esta primeira!