Os Flintstones – Volume 1 | Crítica

Em uma época em que não existia a internet, um dos principais meios de entretenimento era a programação que os canais de televisão ofereciam ao seu expectador. Fundada em 1957, foi nos anos 60 no Brasil que a famosa empresa de animação Hanna-Barbera teve seu auge, chegando a ter seus “desenhos” passando em horário nobre em terras tupiniquins. Dentre suas principais animações, temos: Scooby Doo, Os Jetsons, Space Ghost, Jonny Quest, Smurfs, Tom e Jerry, Os Flintstones, etc.

Estes desenhos animados participaram não só da vida da geração de 60 mas de muitas outras posteriormente. Entretanto, há tempos esses desenhos estavam fora dos holofotes da cultura pop no geral, porém a DC Comics (empresa responsável pelas hqs de Superman, Batman etc) teve a brilhante ideia de dar uma repaginada nos clássicos da Hanna-Barbera no projeto intitulado Hanna-Barbera Beyoud, trazendo uma abordagem diferente em forma de quadrinhos. E Claro, Os Flintstones não poderiam ficar de fora dessa.

Escrito por Mark Russell e ilustrado por Steve Pugh, as novas histórias dos Flintstones foram lançadas em 2016 e tiveram 12 capítulos publicados. Posteriormente 2 graphic novels foram lançadas reunindo 6 capítulos cada, trazidos pela editora Panini Books aqui para o Brasil.

O que chama atenção à primeira vista no quadrinho é seu visual: Não temos aqueles traços cartunescos como víamos na animação do século 20. Aqui, os personagens estão bem realistas e Bedrock,  a “metrópole da idade da pedra”, onde a história se passa, é apresentada contendo várias referências ao nosso mundo moderno, com lojas, restaurantes e lugares de entretenimento cujo nome se parece com marcas reais.

Estão de volta os queridos personagens Fred, Wilma, Barney, Betty e até Bamm-Bamm e Pedrita (já em suas versões crianças). Essa hq não é só real pelos traços do artista, mas em seus diálogos e personalidades, nos deparamos com um Fred com marcas do passado, Wilma como uma pessoa artística, Barney como alguém que pensa em sua família, Betty e seus desejos, Bamm Bamm, além de sua grande força física, como um jovem que não está nem aí com nada e Pedrita demonstrando, além de sua rebeldia, muita sabedoria.

O foco aqui é Fred e Wilma, principalmente Fred (assim como era a animação original). Fred Flintstone aqui é um veterano de guerra e no quadrinho explica o significado da famosa expressão “Yabba Dabba Doo”, como Fred encontrou seu “dinossauro/cachorro” Dino, mostrando que a hq tem também esse papel de amarrar diversas pontas que na animação cuja nunca tinha explicado.

O verdadeiro foco da história aqui não é a “Idade da Pedra” em si e sim os conflitos que os personagens passam e as críticas sociais que são apresentadas.

Temas como consumismo, capitalismo desenfreado, relacionamentos, religião, alienígenas, casamento, guerras, política, exploração dos animais, exploração no trabalho e até o “fim do mundo” são tratados aqui.

Fred e Wilma compram tantos eletrodomésticos (animais em forma de eletrodomésticos, como de praxe no mundo dos Flintstones), mas será mesmo que eles precisam de tudo isso ou é apenas luxúria? Fred precisa comprar tudo isso para Wilma se sentir atraída por ele ou é apenas uma insegurança do protagonista, que se vê obrigado “estar na moda” comprando tanta coisa?

A religião aqui é abordada de uma forma interessante: Os “padres” da idade da Pedra tem a necessidade de buscar algo para as pessoas confiarem, rezarem e se apoiarem. E o povo aceita qualquer tipo de “papo” e entidade para com isso?

Qual é o limite do trabalho? E os animais que são os eletrodomésticos, não tem sentimentos? São simplesmente descartados para se “comprar” outros?

Bedrock é uma grande metrópole, porém e a guerra que foi necessária para manter a ordem do local trouxe consequências?

O casamento é algo plausível nos dias de hoje (ou na “idade da pedra) ou não? E se alienígenas ou o “fim do mundo” chegassem nas civilizações?

Essas perguntas anteriores (que são retóricas) e muito mais são discutidas de forma brilhante, simples e interessante nesse incrível primeiro volume de Os Flintstones.

 

Mesmo se você não for fã da família da idade da pedra, vale à pena dar uma conferida porque além da arte, o roteiro é muito bem estruturado. Cada capítulo possui uma história diferente porém apresentam algumas consequências de um capítulo para o outro, dando ideia de continuidade.

A DC Comics acertou em cheio nessa abordagem mais madura ainda nessa nova repaginada (sendo que já era maduro para a época em que Os Flintstones foi lançado originalmente). Bons personagens, um mundo rico em detalhes e boas histórias nunca saem de moda, e isso tudo você pode encontrar nesse notável primeiro volume de Os Flintstones.

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