CRÍTICA | Terceira temporada de Westworld

Crítica terceira temporada Westworld

Westworld, a atual série da HBO foi baseada em um filme de 1973 escrito e dirigido por Michael Crichton. A HBO nos presenteou com uma sublime terceira temporada que elevou a série para um patamar impressionante de qualidade, conduzindo-nos para novos caminhos inexploráveis porém fascinantes da reformulada franquia Westworld.

A priori, inteligência artificial sempre foi um dos pontos-chave da trama: A primeira e segunda temporada se passavam no parque homônimo e este tinha como função entreter o público que neste adentrasse, onde o parque simulava mundos de faroeste, mundo dos samurais e os “npcs” (personagens de interação) eram os robôs/inteligências artificiais. Dentro do parque você poderia literalmente fazer qualquer coisa. Entretanto, tais atitudes tomadas pelos humanos em relação aos anfitriões não geraria nenhuma consequência? Partindo desta premissa que a segunda e a terceira temporada desenrolavam suas histórias.

Terceira temporada Westworld
Terceira temporada de Westworld

A terceira temporada respeita o que foi mostrado até então e traz diversos elementos novos. O parque não só recebia diversos “clientes” como também armazenava seus dados, monitorando-os. Estes dados coletados pela Delos, empresa criadora do parque, são severamente discutidos nesta temporada. Como esse dados podem ser manipulados por uma grande empresa chamada Incite? Em um mundo em que vivemos onde dados são cada vez mais coletados, como estes podem influenciar ou não a vida das pessoas? Este é apenas um de diversos questionamentos muito interessantes que a temporada traz.

Somos apresentados a um mundo Cyberpunk da HBO

Um dos diferenciais dessa temporada em relação às passadas é que realmente conhecemos como é o mundo fora do parque, o “mundo real”, e temos uma realidade distópica: Um mundo bem ao estilo Cyberpunk. A HBO mostra porque a produção de suas séries geralmente costuma ser muito acima da média e aqui não é diferente: O mundo cyberpunk é mostrado não só visualmente incrível mas as questões sociais são muito bem representadas e encaixadas na série.

Embora não tenhamos diversas linhas temporais como nas temporadas anteriores, deixando a série um tanto quanto confusa (onde na primeira temporada foi melhor resolvido e na segunda temporada deixou a série com excesso de informações), aqui nessa temporada temos a narrativa mais linear porém mais fluída, alterando entre arcos dos principais personagens e dando um tempo de tela suficiente para cada um deles. A elegância é mesclada com a violência de uma forma muito orgânica e natural aqui.

O elenco está sensacional

Apesar de acompanharmos diversos arcos, claramente o principal é de Dolores, interpretada magistralmente pela atriz Evan Rachel Wood (True Blood). A atriz entrega uma personagem extremamente sólida, sagaz, sedutora e letal. Aliás, temos Caleb, um novo personagem nessa temporada interpretado por Aaron Paul (Breaking Bad), representando muito bem um personagem escravo de seus pecados.

Tessa Thompson (Thor Ragnarok, Creed II) mostra aqui porque é uma das grandes atrizes da atualidade: Encarnando Charlotte Hale, Tessa interpreta uma mulher empoderada diante da Delos e ao mesmo tempo carinhosa e materna, sempre de uma forma brilhante. Ademais, o ator Ed Harris (Apollo 13, The Truman Showdando) dá vida à William, fazendo um excelente trabalho aqui mostrando como o personagem está lidando com os acontecimentos da temporada anterior, afinal, a sua personalidade aressiva impactou Dolores e agora afeta toda a humanidade. Ao mesmo tempo que Maeve Millay, interpretada incrivelmente por Thandie Newton (Mission Impossible 2, Hans Solo), vem buscar o que deseja das temporadas anteriores porém agora possui maiores responsabilidades.

Serac, vivido brilhantemente pelo ator Vincent Cassel (Cisne Negro, O Filme da Minha Vida) foi outro show à parte na temporada. Tivemos também a boa presença de John Gallager Jr (Spring Awakening) como Liam, nosso querido brasileiro Rodrigo Santoro (300, Lost) como Hector e uma menor participação porém bela e fundamental de Jeffrey Wright (007, Jogos Vorazes) como Bernard.

Excelência Desde a direção até o roteiro

Decerto os showruuners da série Jonathan Nolan e Lisa Joy acertaram em muitos elementos nessa temporada: Desde os roteiros, direção e até a atuação estão extremamente competentes, impecáveis. Cada episódio teve praticamente um diretor e roteiristas diferente (salvo alguns casos que se repetiram), só que estes demonstravam diversas semelhanças impostas pela produção. Além da história andar em todo episódio e não passar a sensação de você estar sendo “enrolado”, cada cena tinha um propósito. A direção sempre se preocupava em mostrar os melhores ângulos, assim caracterizando muito bem os dramas dos personagens e/ou suas sutis emoções.

Assim a fotografia aqui foi muito competente, ambientando o “mundo real” de forma contundente e mostrando cidade grande, metrópole, deforma honesta. Os efeitos especiais são tão bons que deixam muitos filmes para trás. Se for comparar com séries, a discrepância é ainda maior.

Westworld tem uma paleta de cores mais sombrias que séries mais tradicionais (aqui o humor é praticamente inexistente, fora sarcasmos dos personagens) e esta temporada mostra como a franquia sabe trabalhar como ninguém o “Preto no Branco”, literalmente. Assim, a série em diversas cenas sempre apresenta um cenário preto com personagens trajando branco ou vice-versa, representando a dualidade não só de ideologias mas também a representação literal de todos esses conflitos, de uma forma visual.

A música e a falha

A trilha sonora é outro elemento que faz a temporada ser ainda melhor. Decerto, extremamente bem encaixa e bonita, esta passa um storytelling incrível tanto em cenas de drama quanto em cenas mais agitadas. Somos contemplados nessa temporada também com o parque da Segunda Guerra Mundial e elementos do parque Medieval, com uma bela referência à série mais famosa da HBO: Game of Thrones.

Porém o único ponto negativo evidente foram algumas cenas de ação que envolviam armas de fogo. Cenas de luta corpo-a-corpo foram boas mas quando envolviam armas de fogo, as cenas pareciam bem genéricas onde os mocinhos fugiam tranquilamente das balas. Ainda que a ação não era o foco aqui, prestar atenção nesse detalhe teria deixado a temporada sublime. Todavia, esse detalhe não tira o brilho da temporada.

Vários questionamentos morais e sociais são apresentados aqui

Inegavelmente vários questionamentos são discutidos aqui: Até onde você controla a sua vida ou não? E esse controle é necessariamente bom? Assim, classes sociais lidam de formas diferentes esses preceitos mas no final será que a liberdade é maior para uns e outros não? Saber seu destino é melhor ou pior? Até onde a família pode afetar as escolhas do indivíduo? A coleta de dados da sociedade é boa ou não? Controlar e fazer o mundo melhor ou ter liberdade no caos? A temporada se mostra muito reflexiva em diferentes pontos, fazendo você questionar as razões que movem os personagens. Afinal, apesar da série ter esse visual preto e branco, os personagens possuem diversas camadas e motivações que não os tornam preto e branco.

Westworld pode não ser para um público tão grande, até agora, quanto Game of Thrones foi porém os caminhos tomados pela série com certeza já a coloca como uma das maiores da atualidade, apresentando um grande potencial pela frente. “Excelente” é a palavra que define bem essa temporada. Nota: 9/10.

 

Autor(a): Pedro Voltera
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