Entrevista com Andrzej Sapkowski na Comic Con Portugal

A mente criadora da Saga The Witcher, Andrzej Sapkowski, esteve na Comic Con Portugal que aconte 14 a 17 de dezembro. O site de notícias JPN (Jornalismo Porto Net) esteve presente e fez uma entrevista muito interessante com Sapkowski, onde este, sempre muito sincero e com uma personalidade forte, solta o verbo sobre diversos assuntos como a futura série do The Witcher na Netflix, os jogos e muito mais. Foi divulgado anteriormente em vários veículos de comunicação que Sapkowski estava como consutor criativo da série, mas neste entrevista percebe-se que não é bem assim. Exagero do autor ou não?

Vale ressaltar que quando Sapkowski vendeu os direitos autorais à Metropolis (antiga CDPR), este vendeu por um preço não elevado porque a empresa era muito pequena e a chance de fazer um grande jogo com sua obra era relativamente remota. Porém as coisas acabaram indo muito bem para a vindoura CDPR e o resto é história. Ainda percebe-se uma pontada de rancor do autor, o que de certa forma é compreensível visto porque este não acreditou no enorme potencial que sua obra tinha, ficando difícil de imaginar naquela época o que a saga poderia se tornar futuramente, o que se tornou algo enorme hoje em dia. Claro que nesta história, como nos jogos do The Witcher muitas vezes no apresenta, temos os dois lados. Só que isto é papo para outra ocasião. Veja mais detalhes desta história aqui.

Vale do Pontar acabou adaptando algumas palavras desta entrevista do JPN para o português do Brasil para uma melhor compreensão do texto. Sem mais delongas, confira!

Foto por Magarida Ribeiro

“Ele escreveu uma saga que rejuvenesceu todo um gênero literário. Vendeu milhões de exemplares que hoje já se encontram traduzidos em mais de vinte línguas. Andrzej Sapkowski esteve na Comic Con e o JPN aproveitou a oportunidade para entrevistar o autor.

Para Andrzej Sapkowski a obra e a adaptação são coisas distintas. 

O autor polaco viajou até Portugal para apresentar o lançamento da edição portuguesa da sua famosa saga ‘The Witcher’ no último sábado. Conciso, direto e sempre disposto a dar a sua opinião sincera, por mais controversa que esta seja, o escritor é dotado de um nível de pragmatismo que não se observa todos os dias.

JPN: Escrever não foi a sua primeira escolha de carreira. O que fazia antes de se dedicar à escrita?
Andrzej Sapkowski: Pode-se dizer que era um especialista de marketing. Na Polônia, durante o tempo da União Soviética, pessoas capazes de negociar e fechar acordos eram necessárias. Eu desempenhava essa função,  fiz isso durante 30 anos.

Podemos dizer que foi uma mudança de carreira radical. O que o levou a dedicar-se à escrita?
Sim, podemos dizer isso. A minha mulher então, queria ‘morrer’  pela mudança. Não me lembro ao certo do que me fez decidir, mas é o que é. Hoje não voltaria atrás. Nem sequer penso no passado.

O que o levou a escrever fantasia?
A saga de Tolkien, ‘O Senhor dos Anéis’. Nos anos 70 saiu a primeira edição da saga traduzida para polaco e foi quando a li. Adorei, apaixonei-me pela obra e desde então comecei a apreciar obras de outros grandes autores deste gênero literário.

O seu trabalho teve mais influências para além dos autores de fantasia cujas obras adorou?
Bem, os trabalhos de Stanislaw Lem são algo pelo qual sempre me senti apaixonado. Mas depois, quando encontrei Tolkien, Roger Zelazny, descobri que não eram como muitos assumem. As pessoas acham que se você escreve ficção cientifica, então é muito sábio. E se escreve sobre elfos e dragões, escreve algo estúpido, para crianças. Isso não é verdade. Não é verdade de maneira nenhuma. Não se pode dizer que a saga ‘O Senhor dos Anéis’ é para crianças, porque não é!

À semelhança de ‘O Senhor dos Aneis’, os seus livros lidam com várias questões morais e filosóficas.
Não o escrevo como se fosse um professor dando aulas sobre o assunto. Faço-o porque gosto e espero sinceramente que as pessoas o apreciem. Nem tudo é sobre matar monstros e sexo. Não, há algo mais profundo nisto. Se o leitor perceber isso, fico muito feliz. Se não se perceber… bem, fico feliz do mesmo jeito.

Apesar de não querer se envolver no desenvolvimento, para além de fornecer o material de inspiração, a saga ‘The Witcher’ foi adaptada numa série de jogos com grande sucesso. Neste momento, a Netflix encontra-se no processo de pré-produção de uma série baseada nesta saga. Está envolvido neste projeto de alguma maneira?
Em todas as adaptações, seja a primeira ou a última, nunca estou envolvido no seu desenvolvimento. Do meu ponto de vista, o livro é o livro e a adaptação é a adaptação. Como Kipling disse sobre Leste e Oeste: ‘Leste é Leste e Oeste é Oeste, e nunca os dois irão encontrar’. A adaptação e o original nunca se irão encontrar. Nunca. A adaptação deve ser feita pelos adaptadores. É tudo o que tenho a dizer quanto a isso porque, como deve saber, a Netflix assinou um contrato comigo onde está discriminado explicitamente que qualquer informação relativa à produção que eu divulgue irá resultar numa penalização financeira severa. O que é bom para mim, porque não sei merd@ nenhuma. Por isso, não posso dizer nada.

Então não está envolvido de nenhuma maneira nesta produção?
Absolutamente. E vai ser sempre assim. A Netflix esqueceu-se de incluir a minha opinião pessoal no contrato e a minha opinião pessoal é de que não sei, e nunca vou querer saber, nada sobre a produção.

Tal como não jogou os jogos, também não vai ver a série?
Bem, eu não joguei os jogos porque não gosto ou por estar contra eles. Não, eu não tenho tempo para jogos. Sou um escritor. Ainda este ano, na Inglaterra, encontrei um cara que faz jogos de interpretação de personagens em RPGs de livros (Livro- jogo, São livros que em páginas você tem que tomar decisão e dependendo desta, pula para uma página específica). Este faz algo como: ‘Faça isso e vá para a página 12’. Ele disse-me que, para ele, era como escrever muitos livros ao mesmo tempo. Eu disse-lhe que, para mim, aquilo não era escrever livro nenhum. Não se pode dizer que aquilo é escrever um livro porque quando você escreve um livro, tem de saber como começar e como acabar. Escrever algo como ‘Se matar este orc vai para a página 340’ não é a maneira correta de o fazer. Não é escrita, não é literatura de maneira nenhuma.

O que esperar de Andrzej Sapkowski?
É um mistério, é um segredo. Quando estava se dirigindo de Madrid para as Astúrias, perguntaram a Tim Powers, um autor americano bastante conhecido, sobre o que ele andava escrevendo. Ele respondeu, ‘barcos a vapor’. Perguntaram-lhe por que estava escrevendo sobre ‘barcos a vapor’. Ele respondeu: ‘Porque é uma péssima ideia’. Por isso, quando me perguntam sobre o que ando escrevendo neste momento, eu respondo: barcos a vapor.

Mas está escrevendo?
Barcos a vapor. (risos) As pessoas… estão sempre por perto, atentas para roubar as ideias toda hora. Já me aconteceu muitas vezes, é por isso que estou lhe dizendo ‘barcos a vapor’.”

Gostaram da entrevista? Deixem suas opiniões nos comentários! Não leu a saga The Witcher ainda? Não sabe o que está perdendo. Fica a recomendação do Vale do Pontar!

Autor(a): Pedro Voltera
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